A Fundação da Igreja em Tiatira
Situada
a sudeste de Pérgamo, num vale espaçoso, Tiatira foi marcada por uma
indústria artesanal e um comércio bastante diversificado e próspero,
onde estavam presentes padeiros, pintores, curtidores, oleiros,
metalúrgicos e trabalhadores têxteis.[1]
Este profissionais se organizavam em associações fraternais,
semelhantes aos atuais sindicados. Cada associação tinha seu próprio
deus, e seus membros participavam de festivais idólatras, que incluíam
banquetes oferecidos aos ídolos e orgias sexuais. Não havia em Tiatira
grandes templos pagãos, nem a adoração ao imperador constituía grande
ameaça.[2]
Quanto
a sua fundação e organização, a igreja em Tiatira pode ter sido
resultado do testemunho de Lídia (At 16.14), ou alcançada pelo trabalho
missionário de Paulo (At 19.10).
A Condição da Igreja em Tiatira
Na carta à igreja em Tiatira o Senhor Jesus se apresenta como aquele que tudo vê e que julga retamente (Ap 2.18).
Diferente
de Éfeso, a igreja em Tiatira superou o tempo, conseguindo crescer em
obras e amor. Quantidade, qualidade e motivação certa devem caminhar
juntas no exercício da diaconia cristã:
Conheço
as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e
as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. (Ap 2.19)
Apesar de praticar a caridade, em Tiatira uma falsa profetiza e mestra era tolerada:
Tenho,
porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma
se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus
servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos
ídolos. (Ap 2.20)
Seu
ensino e influência promoviam a idolatria e a imoralidade sexual entre
os crentes em Tiatira. O grave é que a repreensão do Senhor Jesus
sinaliza que não havia uma resistência firme contra as heresias de
Jezabel, antes, havia uma perigosa tolerância.
A
identificação desta falsa profetiza e mestra com a Jezabel do Antigo
Testamento, mulher do rei Acabe, se dá em razão da influência de ambas
na proliferação da idolatria e da desobediência a Deus (1 Rs 16.31-33;
21.25; 2 Rs 9.30-37).
Lições que Aprendermos com a Igreja em Tiatira
No
Novo Testamento temos a presença de profetisas e mestras atuando na
igreja, pois não há acepção de pessoas por gênero, raça, condição
social, etc., na concessão dos dons do Espírito (1 Co 12.7-11). Em
Efésios 4.11 temos uma lista de dons, e não de cargos eclesiásticos: “E
ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres”. Dessa forma, tais dons
operam em homens e em mulheres. Em Atos 2.17 lemos que “vossas filhas
profetizarão”. As filhas de Filipe, o evangelista, profetizavam (At
21.8-9). Priscila, ao lado de seu marido Áquila, foi uma grande
discipuladora e ensinadora (At 18.26).
Na
história da igreja, e mais especificamente das Assembleias de Deus no
Brasil, temos notáveis exemplos de mulheres que com excelência
realizaram a obra de Deus em através dos dons que o Espírito as
concedeu. Observemos alguns exemplos, dentre tantos outros que
poderíamos aqui citar:[3]
- Frida Vingren.
O trabalho desenvolvido por esta mulher ao lado do esposo Gunnar
Vingren envolvia atividades evangelísticas, trabalho social, direção de
grupos de oração e visitadoras, direção da Escola Dominical, tocava e
cantava hinos e substituía o marido na direção dos cultos quando este se
ausentava em visita ao campo ou por causa das enfermidades.[4]
- Emília Costa.
Separada por Gunnar vingren para servir como diaconisa em 1925, na
Assembleia de Deus em São Cristóvão, Emília Costa foi bastante atuante
na evangelização e realização de cultos nas cadeias da cidade. É a única
mulher brasileira que aparece na foto oficial da Convenção Geral das
Assembleias de Deus de 1933.[5]
- Florência Silva Pereira.
O grande trabalho desenvolvido por esta mulher de Deus envolveu a
direção e o pastoreio da Assembleia de Deus em Alagoinhas - BA, em 1943,
onde construiu um templo. Em 1950, ao chegar a Sergipe, foi enviada
pelo pastor Euclides Arlindo para dirigir o campo da Assembleia de Deus
em Carmópolis (já tive a oportunidade de pregar nesta cidade), à frente
do qual abriu igrejas nos municípios de Maroim, Rosário, Laranjeiras e
Santa Rosa de Lima. Quando teve que deixar o trabalho, já havia dois
templos, um salão e algumas casas alugadas pela destemida obreira do
Senhor.[6]
Infelizmente,
nas Assembleias de Deus no Brasil, assim como em outras igrejas, o
trabalho da mulher não foi marcado apenas por grandes realizações. Há
também exemplos negativos. Da mesma forma que a Jezabel do Antigo
Testamento, e da Jezabel do Novo Testamento, há profetisas, mestras e
esposas de líderes, que em vez de ajudar, acabam atrapalhando e
comprometendo a saúde da igreja e o ministério do seu marido. Jezabel
aponta para aquela esposa de líder que manda e desmanda, e cujo marido
não tem força para conte-la. No reino onde Jezabel atua, as principais
decisões são tomadas por ela. É ela que decide quem vive ou morre, quem
fica ou sai, para quem serão distribuídos os cargos, qual programa de
governo a ser seguido, a programação dos cultos, os hinos a serem
cantados e quem será o pregador da noite ou o preletor do congresso.
Jezabel
é também aquela profetiza a quem alguns líderes imaturos recorrem
quando precisam tomar alguma decisão na igreja. Jezabel é ainda aquela
profetiza e mestra que na base da pseuda revelação profética tentar
intimidar os crentes, e dissemina falsos ensinos, que não se sustentam à
luz de uma hermenêutica e exegese sadia, e da iluminação do Espírito.
O
trabalho da mulher na igreja deve ser valorizado na medida em que se
fundamenta na Palavra. Na mesma proporção e medida, nenhuma ação ou
ensino que possa distorcer a sã doutrina, e perverter a conduta dos
crentes devem ser tolerados. O ensino e a influência maligna de Jezabel
trazem juízo para ela e para os seus seguidores, sempre que a
longanimidade de Deus é desprezada (Ap 2.21-23).
Assim como na igreja em Tiatira, fica também para nós a advertência e a promessa do Filho de Deus:
Digo,
todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm
essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas
de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. Ao
vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei
autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá
a pedaços como se fossem objetos de barro; assim como também eu recebi
de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o
que o Espírito diz às igrejas. (Ap 2.24-29)
[1] KISTEMAKER, Simon. Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 184
[2] LAWSON, Steven J. As Sete Igrejas do Apocalipse. 5. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 129
[3] ARAÚJO, Isael. 100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
[4] Ibid., p. 39.
[5] Ibid., p. 79.
[6] Ibid., p. 155 e 156
por Pr. Altair Germano