AS DORES DO
ABANDONO
Texto Áureo: Sl. 68.6 –
Leitura Bíblica: II Tm. 4.9-18
Prof. José Roberto A. Barbosa
Twitter: @subsidioEBD
INTRODUÇÃO
As pessoas estão cada vez mais centradas em si mesmas, ninguém tem
mais tempo para o outro. Por esse motivo, não são poucas as pessoas que estão
sendo abandonadas, inclusive dentro da igreja. Na lição de hoje trataremos a
respeito desse problema, mostraremos, a princípio, que essa é realidade
constatada na Bíblia. Em seguida, que o abandono pode resultar em solidão. Ao
final, apresentaremos encaminhamentos bíblicos para enfrentar a solidão e o
abandono.
1. ABANDONO, UMA
REALIDADE BÍBLICA
Em II Tm. 4.9-18, Paulo,
o Apóstolo dos Gentios, relata sua situação de abandono, ou conforme uma
tradução bíblica, de desamparo. O verbo em grego é egkataleipo que significa
“ser deixado para trás” ou “ser desertado”. O Apóstolo estava preso,
provavelmente em sua última prisão em Roma, por volta do ano 60 d. C. Essas
eram suas palavras finais antes de ser executado por Nero, o sanguinário
imperador que mandou incendiar a cidade de Roma. A expressão “ninguém me
assistiu”, no versículo 16, é um destaque da condição na qual Paulo se
encontrava. Mesmo assim, ele não se desesperou, pois entrou um “mas” na
história. Ele diz, no versículo 17: “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me,
para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem e
fiquei livre da boca do leão”. Uma tradução literal diria “o Senhor ficou do
meu lado”. Mas o caso de Paulo não é único de abandono na Bíblia, desde o
Antigo Testamento, o povo de Israel passou por essa realidade. O Senhor sempre
prometeu permanecer do lado do Seu povo, mesmo quando este fosse desamparado,
azab em hebraico (Gn. 28.15; Dt. 31.6,8). O próprio Jesus passou pala situação
de abandono, alguns dos seus ouvintes acharam suas palavras demasiadamente
duras (Jo. 6.60). Os discípulos, nos momentos angustiantes que antecederam Sua
prisão, O deixaram sozinho (Mt. 26.46,47). Posteriormente, depois da Sua
prisão, seus discípulos se distanciaram dEle, Pedro negou que O conhecia (Mt
26.31, 70-72). Na cruz Jesus se sentiu abandonado pelo Pai, citando o Sl. 22.1,
Ele clamou em oração: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mt. 27.46).
2. O ABANDONO PODE
RESULTAR EM SOLIDÃO
Desde o princípio, Deus criou o homem para ter companhia, Ele mesmo
atestou que não era bom viver só (Gn. 2.18). Adão estava com Deus, mas
precisava de outro ser humano para conviver. Diante dessa necessidade, Deus
criou Eva e ordenou que se multiplicassem. Depois da Queda Adão e Eva deixaram
de desfrutar da comunhão com o Criador, e entre eles mesmos. O abandono e a
solidão têm causas diversas, dentre elas destacamos: 1) sociais – a tecnologia
está fazendo com que as pessoas fiquem cada vez mais solitárias e abandonem
umas as outras. No trabalho cada um fica no seu espaço reservado, os membros
das famílias não têm mais tempo para ficarem juntos; 2) urbanização – na medida
em que as pessoas se transferiram para as cidades, foram fechando-se dentro de
suas casas, mais recentemente nos apartamentos, vizinhos que mal se conhecem;
3) televisão e internet – está tomando o tempo das pessoas ficarem juntas para
conversarem, elas ficam horas à fio diante da tela; 4) baixa autoestima – as
pessoas que têm um pensamento negativo a respeito delas mesmas tendem ao
isolamento, elas se abandonam antes de serem abandonadas; e 5) medo – por causa
das muros, ao invés de pontes, construídas pela sociedade moderna, cultivamos a
cultura do medo de nos aproximar do outro. O abandono, juntamente com a
solidão, pode causar males às vidas das pessoas. Algumas delas podem
desenvolver depressão por causa do isolamento a que são submetidas. O
exibicionismo exagerado nas redes sociais – facebook e twitter, por exemplo –
pode ser um sinal de solidão. Mas é preciso ter cuidado para não se expor
demasiadamente, pois as consequências podem ser desastrosas. Isso porque nem
todas as pessoas que estão na rede são compreensivas com aqueles que passam por
situações de abandono.
3. COMO ENFRENTAR O
ABANDONO
Nem sempre o abandono é uma realidade, na verdade, conforme já
destacamos anteriormente, pode ser uma consequência do autoisolamento. Por
isso, é recomendável que a pessoa que se sente abandonada, antes de qualquer
coisa, não se abandone. O primeiro passo é reconhecer que Deus é Aquele que
está sempre pronto a estar ao nosso lado (Is. 42.16). Há casos em que o
abandono aconteceu em algum momento da infância e acompanha a pessoa durante a
idade adulta. Em tais situações, a saída é orar pedindo a Deus que traga à
memória tais aflições (Lm. 3.19), em seguida, entrega-las a Deus em oração. O
Salmo 139.1-18 é um modelo de oração que expressa a presença de Deus, mesmo nas
situações adversas, quando o sentimento de abandono assola o cristão. Ao invés
de se queixar, aprendamos com Paulo a entregar aqueles que nos abandonam a Deus
(II Tm. 4.14), e o principal, escolher perdoá-los (Cl. 3.13). A igreja deve ser
um ambiente propício à cura do abandono e da solidão, mas infelizmente, como
esta também foi contaminada pelo isolacionismo moderno, seus membros não
encontram tempo para encorajar uns aos outros (Hb. 3.13). A igreja precisa
estar atenta às pessoas doentes, viciadas, solteiras, idosas e desempregadas.
Em uma sociedade utilitária, que se preocupa com as pessoas apenas pelo que
elas podem fazer, a igreja é tentada a esquecer dessas pessoas. É preciso criar
espaços de integração na igreja local, evitar a criação das “panelinhas”. A
liderança deve investir em momentos de comunhão, não apenas para o culto, mas
para estarem juntas.
CONCLUSÃO
O Deus da Bíblia é de comunhão, por sua própria natureza, é
trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo. Ele tem interesse que as pessoas vivam
umas com as outras, por isso criou a família. A igreja é uma extensão dessa
realidade, não por acaso os que se congregam são chamados de irmãos e irmãs.
Mas é preciso cultivar relacionamentos na igreja, caso contrário ela perde a
razão de ser. Portanto, como diz o autor da Epístola aos Hebreus, no sentido
relacional, que deve ser peculiar da ekklesia: “não deixando de congregar como é costume de alguns” (Hb.
10.25).
BIBLIOGRAFIA
LUCADO, M. Você não está
sozinho. São Paulo: Thomas Nelson, 2012.
REAL, P. Relacionamentos na
igreja. São Paulo: Vida, 2003.