LANÇA O TEU PÃO SOBRE AS ÁGUAS
Texto Áureo: Ec. 11.1 – Leitura Bíblica:
11.1-10
Prof.
Ev. José Roberto A. Barbosa
Twitter:
@subsidioEBD
INTRODUÇÃO
A vida
“debaixo do sol” está cheia de paradoxos, e dependendo do ponto de vista,
alguém pode concluir que nada faz sentido. Ao constatar a futilidade da vida, o
autor do Eclesiastes pondera a respeito do que realmente vale a pena. Na aula
de hoje mostraremos que, ainda que tudo aos olhos humanos seja vaidade, podemos
tirar algum proveito da existência. Destacamos, inicialmente, a necessidade de
viver pela fé, e mesmo de aproveitar a vida, ciente das responsabilidades que
temos diante de Deus e do próximo. Ao final mostraremos a necessidade de, em
todas as circunstâncias, depender do Senhor e confiar nEle.
1. VIVENDO PELA FÉ
Salomão
começa a concluir sua análise da vida, e como um homem da assembleia, não se
esquece de fazer aplicações. Aponta a importância de se viver pela fé, de
lançar o pão sobre as águas. O sábio hebreu estava acostumado às transações
comerciais, principalmente através do uso de navios (I Rs. 10.15,22). Aqueles
que se aventuram no comércio sabem o quanto essa profissão é arriscada. Quem
comercializa pode colher muitos frutos do seu trabalho, mas pode também perder
tudo o que tem. Ninguém sabe o que acontecerá no futuro, é viável que se tome
as devidas precauções para evitar surpresas. Mas não podemos ter garantias em
relação aos nossos investimentos (Ec. 1.2,5,6). O agricultor é exemplificado
como alguém que deposita as sementes no solo, na esperança de que, no futuro,
venha a colher frutos. Essa é uma instrução do sábio para evitar o marasmo, a
falta de tomada de decisões. Não podemos desperdiçar as oportunidades, para
tanto precisamos estar atentos às circunstâncias, a fim de não deixar passar a
porção que nos é destinada. Todos nós gostamos de comodidade, ninguém está
disposto a se aventurar, mas a vida nos convida a arriscar-se. Ninguém pode
determinar com precisão quais são os desígnios de Deus, por esse motivo, devemos
ter coragem, e agir no momento que for requerido. Paulo orienta os crentes de
Éfeso a remirem o tempo, essa expressão tem uma conotação financeira (Ef.
5.15-17). Diante dos dias maus, não podemos fugir da responsabilidade, antes
fazer o que tem de ser feito. Tal como o lavrador da terra, não podemos deixar
a chuva passar, olhar para o céu é precaução, até mesmo tentar antecipar os
acontecimentos, mas uma vida pautada na fé demanda coragem. Não na própria fé,
mas em Deus, que é a razão da nossa confiança, pois Ele é quem dará a colheita em
tempo oportuno, de acordo com Sua soberana vontade (G. 6.8,9; Sl. 126.5,6; Os.
10.12).
2. APROVEITE A VIDA
Ainda que
a vida pareça não ter sentido, e que tudo pareça ser tão fugaz, não podemos
fugir da condição existencial. Antes precisamos atentar para a máxima: cape
diem (aproveite o dia), não como as pessoas que não conhecem a Deus. O ser
humano tem uma tendência ao exagero, isto é, aos extremos. Existem alguns que
são legalistas, considerando tudo pecado, repreendendo os momentos de alegria.
Outros levam para o outro lado, e acham que podem fazer tudo, nada consideram
pecado, e se entregam à vida dissoluta. O autor de Eclesiastes nos conduz a um
ponto de equilíbrio, ao reconhecimento de que não é pecado regozijar-se,
afinal, podemos nos regozijar no Senhor (Fp. 4.4,5). É maravilhoso acordar
todas as manhãs com sentimento de gratidão a Deus por tudo que Ele nos tem dado
(Ec. 11.7,8; Dt. 33.25). Salomão demonstra preocupação com os mais jovens, que
podem desfrutar com maior intensidade a vida. De fato, o período da juventude é
caracterizado pela busca do prazer, em algumas situações, hedonisticamente. Os
jovens devem estar atentos aos excessos, precisam guardar o coração e os olhos,
para não pecarem contra Deus (Nm. 15.39; Pv. 4.23; Mt. 5.27-30), observarem as
orientações da Palavra de Deus (Sl. 119.9,11). A alegria da juventude não deve
ser desprezada, tenhamos cuidado para não contagiá-los com atitudes
pessimistas. Antes que o sol se ponha, os jovens podem desfrutar do amanhecer
das suas vidas. Por outro lado, eles devem estar atentos às suas
responsabilidades, e terem cuidado para não destruírem o futuro. Muitos jovens
estão perdendo suas vidas ao se entregarem ao mundo das drogas, e à promiscuidade
sexual. Por não pensarem antes, estão colhendo os frutos amargos das decisões
precipitadas. As consequências, não poucas vezes, são drásticas, e em alguns
casos, irreparáveis. A descoberta de prazeres que agregam valores deve ser
incentivada aos jovens, tais como ouvir música de qualidade, ler bons livros e
devotar-se às atividades que resultem em amadurecimento intelectual e
espiritual.
3. DEPENDA DO SENHOR
As
instruções do sábio, autor de Eclesiastes, não devem motivar à
autossuficiência. Muitas pessoas, tomadas pelo pragmatismo moderno, acham que
podem fazer tudo, de que não existem limites. Essa onda motivacional pode
ajudar àqueles que perderam o interesse pela busca de ideais. Mas é preciso que
o remédio seja dado na dose certa, caso contrário, recairemos em mero ativismo,
e em algumas situações, em superdimensionamento das possibilidades. Se por um
lado algumas pessoas ficam inertes diante da necessidade de tomada de decisões,
por outro, há os que se precipitam e agem sem refletir a respeito das
consequências. Jesus nos ensinou a planejar antes de realizar qualquer
empreendimento (Lc. 14.28-30). É uma demonstração de sabedoria avaliar os prós
e contras antes de investir em determinado negócio, e também certa dose de
realismo, para não se frustrar. Há crentes que, instigados pela teologia da
ganância, se lançam em negócios, sem ter capital para sustentar o
empreendimento, no final se decepcionam. Alguns recebem mensagens de supostos
profetas que os impulsiona para fazerem negócios que não têm o respaldo divino.
Mais triste ainda é ver muitos que se decepcionam não apenas com esses
“profetas”, mas também com o próprio Deus, culpando-O pelo descumprimento da “sua”
palavra. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, mas das coisas
que se não veem, aqueles que querem agradar a Deus devem ter fé nEle (Hb.
11.1,6). Mas essa fé não é mero pensamento positivo, uma vontade particular de
que algo se concretize, de acordo com nossos desejos (Tg. 4.3). Trata-se de uma
fé para além das circunstâncias, mesmo diante das perseguições, não é uma fé
empresarial. É a fidelidade, resultante da produção do fruto do Espírito na
vida do crente, uma disposição incondicional para seguir ao Senhor (Gl. 5.22).
Aprendamos a pedir ao Senhor o pão nosso de cada dia (Mt. 6.11), a viver não
pelo que vemos (II Co. 5.7), mas na esperança daquilo que o olho não viu (I Co.
2.9), cientes de que sem Jesus nada podemos fazer (Jo. 15.5).
CONCLUSÃO
A vida
do cristão não é destituída de significado, fazendo referência a um dos
personagens de Shakespeare, “não é uma história contada por um idiota, cheia de
som e fúria, sem sentido algum”. Deus se importa com cada um de nós, Ele se
interessa pelas nossas necessidades, não nos abandonou (Mt. 6.25-32; Hb. 13.5).
Devemos fazer a parte que nos compete, agirmos com diligência (Mt. 10.16), mas
também confiar na providência do Senhor, pois como ressaltou Salomão, o cavalo
se prepara para a batalha, mas a vitória vem do Senhor (Pv. 21.31).
BIBLIOGRAFIA
ARRUDA, A. Eclesiastes:
crítica à existência fugaz. São Paulo: Fonte Editorial, 2012.
WEIRSBE,
W. W. Ecclesiastes: be satisfied.
Colorado Springs: David Cook, 2010.