Existe ainda certa
relutância por parte de muitos evangélicos que acreditam na premissa:
"Religião não se mistura com política", porém, este é um sistema
organizacional absolutamente necessário para que haja ordem e democracia
entre as pessoas de uma sociedade. Política não pode ser algo alheio a
muitos e acessível a poucos, mas DEVE SER COMPARTILHADA ENTRE TODOS,
pois é algo que reflete na vida de todos.
Porque se contentar apenas com o crescimento numérico de igrejas,
enquanto que, o Evangelho pode penetrar em todas as camadas da
sociedade? Porque não acreditar que o Evangelho pode curar a maneira
adoecida e equivocada de se fazer política? A Igreja não estará
cumprindo de fato a sua missão, enquanto, apenas os templos religiosos
estiverem abarrotados de pessoas ávidas pela prosperidade material,
pacificação emocional ou qualquer outra intenção que não seja de fato a
realidade de viver o Reino de Deus e a sua justiça.
Na mente das primeiras gerações de cristãos ficou a imagem de Jesus como
alguém que passou pelo mundo fazendo o bem (At 10.38). Ao anunciar o
evangelho do reino, ele apontou como uma de suas características a
sensibilidade diante da dor alheia e a prontidão em assistir os
desafortunados. Até mesmo o Antigo Testamento, está repleto de preceitos
e narrativas referentes à temática social. As figuras do pobre, do
órfão, da viúva e de outras pessoas em situação de desamparo povoam as
Escrituras Hebraicas.
Há quem diga abertamente que o Evangelho nada tem a ver com política. Há
quem deplore que se discuta o que se chama vulgarmente de “questões
políticas” na igreja. Quando vemos alguns péssimos exemplos dos
políticos evangélicos, até entendemos a razão desse tipo de ojeriza à
política. Mas, em geral, é fruto de uma pregação evangélica distorcida
que aliena as pessoas, fazendo-as pensar que as questões políticas e
sociais nada têm a ver com espiritualidade.
A relação entre cristianismo e política não deve ser confundida com a
relação entre igreja e estado. A separação entre igreja e estado foi uma
preciosa conquista da democracia. Ela garante a liberdade de culto e
garante que, na ausência de uma religião oficial do estado, nenhuma
instituição religiosa será privilegiada pelas leis do país. Isso nada
tem a ver, no entanto, com a relação entre cristianismo e política. O
verdadeiro cristianismo, me parece, está envolvido nas questões
sócio-políticas até o pescoço. Ou talvez deveríamos dizer: até a cabeça,
que é Cristo.
Como teólogo, tenho convicção que a Bíblia e o Evangelho nos convidam a
um sério engajamento com os problemas sociais, econômicos e políticos.
Mas como o sociólogo Paul Freston, diz: “Nossa preocupação tem que ser
com a promoção do Evangelho e não com a promoção dos evangélicos”.
Precisamos de políticos com uma ênfase nos princípios da Palavra de
Deus, precisamos muito mais de políticos evangélicos, do que evangélicos
na política.
Por Bruno dos Santos
Guiame